Hoje, 20 de novembro, dia de celebrar a consciência negra. Mas diante de nossa triste realidade, a celebração torna-se difícil, embora, extremamente importante!
A data refere-se ao dia em que Zumbi dos Palmares foi morto, em 1695. Zumbi é símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil |1|. Assim, esta data nos remete à reflexão pela luta que ainda hoje é necessária para que tenhamos uma sociedade mais justa para todos. Também é uma data importante para lembrarmos de todas as lutas dos negros e nossas homenagens e respeito àqueles que transformaram nossa história.
Ainda é necessário ter consciência do preconceito existente para que possamos nos colocar como sujeitos ativos diante das mudanças necessárias. Pesquisas apontam que homens negros têm 2,5 mais probabilidade de serem mortos pela polícia do que brancos |2|. No cenário da violência obstétrica, esses números não são diferentes. Em 2018 houve 44 mortes maternas para cada 100 mil partos no Brasil. Nos EUA 14 e Finlândia 3 . Ocupamos a 100ª posição no ranking. O assustador é: 92% destas mortes são evitáveis. 90% das mulheres são negras e para cada morte outras 30 quase morrem e tem sequelas. |3|
Mulheres que são impedidas de amamentar seus bebês na primeira hora de vida e são separadas deles ao nascer, estão sofrendo violência obstétrica. Outras práticas desse tipo de violência – como uso desnecessário de medicamentos no parto, a episiotomia e o incentivo pela cesárea eletiva - também trazem consequências desastrosas pra amamentação. E quando lembramos dos números citados anteriormente sobre violência obstétrica, é possível relacionar que a amamentação das mulheres negras torna-se ainda mais difícil e, portanto, precisamos agir para criar mais estratégias de proteção e promoção para esta população.
E falando em ter consciência, deixo aqui um texto que explica um pouco dessa história da amamentação das mulheres negras e como essa violência começou. Precisamos nutrir a sociedade para dias melhores e nada como um pouco de história para ampliar a consciência e começarmos a pensar nas mudanças.
|1| FERNANDES, Cláudio; SILVA, Daniel Neves. "20 de novembro – Dia da Consciência Negra"; Brasil Escola. Para acessar, clique aqui.
|2| Racismo institucional leva polícia do Brasil e dos EUA a matar mais negros e pobres. Para acessar, clique aqui.
|3| Violência Obstétrica. A voz das brasileiras.
Violência obstétrica e o viés racial Emanuelle Goes. Para acessar, clique aqui.
EMPODERAMENTO das MULHERES NEGRAS na AMAMENTAÇÃO. Por: Isabel Cruz - Online Brazilian Journal of Nursing. Para acessar, clique aqui.
Mãe preta: o aleitamento no período escravista
Um dos temas mais recorrentes entre os registros dos artistas viajantes que passaram pelo Brasil no século XIX são as diversas funções exercidas pelos escravizados. Entre quitandeiras, barbeiros, lavadeiras e ambulantes, as amas de leite são personagens frequentes na iconografia oitocentista. A prática de delegar a amamentação às mulheres mais pobres foi importada da aristocracia europeia, comum não só no Brasil, mas em quase todas as sociedades escravistas da América.
Uma das teorias raciais que circulavam na época afirmava que o leite da mulher negra era mais forte e abundante (essa tese caiu por terra ao longo do século XX). Por isso, nas fazendas, uma escravizada que tinha acabado de parir era transferida para a casa de seu senhor para amamentar o recém-nascido branco e tomar conta da criança em tempo integral. Seu próprio filho dificilmente tinha acesso ao leite materno e era cuidado por outras escravizadas que o alimentavam com uma papa de mandioca ou com leite animal não pasteurizado, o que contribuía para o grande número de óbitos.
Nas cidades, as chamadas mães pretas não trabalhavam apenas para seus senhores. Quando não havia em suas propriedades uma cativa que tinha acabado de se tornar mãe, as famílias ricas recorriam ao aluguel de escravas lactantes. Essas mulheres trabalhavam como amas de leite para mais de uma família ao mesmo tempo. Seus filhos, quando proibidos de morar com a mãe, eram vendidos, doados, abandonados na rua ou na Roda dos Expostos.
Depois da abolição da escravidão, mulheres negras grávidas ou que tinham parido recentemente eram muito valorizadas no tráfico interno. A reprodução era estimulada por ser rentável para o mercado de escravos, mas o direito à maternidade para essas mulheres era negado.
Quando não eram alugadas, as puérperas continuavam a trabalhar com seus filhos amarrados ao corpo. Passavam o seio por cima do ombro ou por baixo do braço para que pudessem amamentar sem interromper suas funções.
No final do século XIX, a maternidade passou a ser valorizada pela aristocracia, e o aleitamento materno, incentivado. Ao mesmo tempo, surgiram estudos sobre os riscos da amamentação cruzada (quando uma mulher amamenta o filho de outra). O problema é que esse novo discurso circulou pela sociedade carregado de preconceito já que grupos de médicos responsabilizaram as amas de leite pela transmissão de doenças. Essas mulheres, que antes eram imprescindíveis nas famílias ricas, passaram a ser condenadas e perseguidas.
Hoje, a amamentação ainda é tabu. E esse tipo de prática do século XIX pode ter contribuído para a existência de mitos sobre leite forte ou fraco e a atribuição do aleitamento como atividade exclusiva para pessoas de baixa renda. Vale lembrar que o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS) contraindicam a amamentação cruzada por conta do risco de transmissão de doenças, mas nada disso tem a ver com a cor da pele ou com a situação social das lactantes. Além disso, no Brasil, o aleitamento materno é recomendado até o bebê completar dois anos de idade.
Fonte: clique aqui.
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