Esse mês está acontecendo o novembro roxo, mês de atenção à prematuridade, e ontem, 17/11, foi o dia mundial da prematuridade. Ele acontece para conscientizar profissionais de saúde, pais e toda a sociedade sobre a importância de se evitar a prematuridade, quando possível, bem como a utilização dos recursos disponíveis antes da gestação, durante ela, e após o nascimento do bebê, alertando, inclusive para a necessidade de acompanhamento especial após a alta para essa população de pequenos guerreiros.
O texto de hoje vem explicar e encorajar as mães sobre a importância do aleitamento materno para a mãe e o bebê prematuro, bem como relembrar aos profissionais de saúde sobre esses benefícios. O melhor alimento para um bebê que nasce prematuro é o leite da sua própria mãe. Caso ele não esteja disponível, em segunda escolha encontra-se o leite humano dos bancos de leite, e somente como última opção, a fórmula infantil.
O leite materno é composto por várias substâncias que se adequam às necessidades e especificidades de cada criança. Ele contém células vivas como macrófagos, linfócitos, entre outros, e uma grande variedade de fatores ativos biológicos como a IgA, a lactoferrina, a vitamina B, bem como um grande número de hormônios como esteróides, tiroxina, gonadotrofinas, prolactina, eritropoetina, melatonina, etc.
O colostro, a primeira secreção produzida pela glândula mamária, considerada também a primeira vacina do bebê, possui um alto teor calórico, protéico, de sódio, potássio e anticorpos. Esses anticorpos são essenciais na proteção ao bebê prematuro, ajudando a evitar infecções. Quando o bebê ainda não está liberado para ingestão do colostro pela boca, podemos utilizar um método chamado de colostroterapia, que consiste em pingar gotas do colostro na boca do bebê, para aproveitar essa proteção fornecida por ele.
O leite produzido pela mãe do recém nascido prematuro nas primeiras 4 semanas pós-parto contém maior concentração de nitrogênio, proteínas, lipídios totais, ácidos graxos de cadeia média, vitaminas A, D e E, cálcio, sódio, energia e uma seleção de propriedades anti-infecciosas que aquele da mãe do recém nascido a termo. Essas diferenças estão ajustadas à necessidade única do prematuro e diminuem após o primeiro mês de lactação, quando o leite materno do prematuro se assemelhará, em composição, ao leite materno do a termo. Essa diferença de composição facilitará o ganho de peso nesse período.
Quando a mãe frequenta a UTI Neonatal, enquanto ela fala e respira, seu sistema digestório e respiratório tem contato com os microrganismos que colonizam aquele ambiente. O seu corpo passa, então, a produzir anticorpos contra eles. Dessa forma, o leite materno protege o prematuro também contra as temidas infecções hospitalares.
Existe um componente abundante no leite materno, o HMO (human milk oligosaccharides), que é tão complexo que não conseguimos digerí-los. Ele serve para alimentar a microbiota intestinal, as bactérias boas que colonizam nosso intestino, evitando assim que as más bactérias possam causar alguma desregulação. Em bebês prematuros, uma das complicações mais temidas é a enterocolite necrotizante, onde parte do intestino precisa ser retirado cirurgicamente, e que pode evoluir, inclusive para o óbito. Sabe-se que o uso de fórmula infantil é um dos fatores de risco para a ocorrência da enterocolite, ou seja, o leite materno atua como potente protetor contra essa complicação.
Sabemos também que o leite materno possui substâncias que facilitam as sinapses (conexões) que o cérebro faz, auxiliando e favorecendo o aprendizado e o desenvolvimento neuropsicomotor dos bebês prematuros.
Diante de tantos benefícios, precisamos admitir que todo esforço, da mãe, da equipe, da família, da rede de apoio, é válido na tentativa de estabelecer e manter o aleitamento materno de forma mais prolongada possível. Logo após o parto, muitos bebês são encaminhados para a UTI Neonatal e não podem mamar. Nesse momento é necessário orientar a mãe sobre a massagem e ordenha manual do colostro, esclarecendo que cada gotinha retirada é muito importante para o bebê, bem como a frequência que deve ser realizada. Esse apoio deve ser continuado durante a apojadura (descida do leite), e no momento que o bebê puder, finalmente, sugar na mama.
Enquanto o bebê não tem idade, peso ou estabilidade para sugar a mama, o leite deverá ser ofertado através de sonda, copo, ou outras técnicas que protejam o bebê da confusão de bicos. A confusão de bicos é causada pela mamadeira e chupeta, que interferem no aprendizado da sucção adequada, na pega correta e, consequente, na extração suficiente do leite. Infelizmente o uso indiscriminado desses utensílios nas UTI Neonatais, tem contribuído para baixas taxas de aleitamento materno após a alta, principalmente nos hospitais que não seguem as orientações do Ministério da Saúde no programa “Amigo da Criança”.
Quando o bebê é prematuro, mas pode ir direto para o alojamento conjunto, ou já tem liberação para sugar na mama, precisamos ajudar e orientar essa díade para que a amamentação se inicie da forma adequada. Na maioria dos casos, os bebês são pequenos, e a boca deles também, o que pode dificultar inicialmente o posicionamento no colo para a amamentação e a pega correta. Também costumam ser mais sonolentos, e dormem com facilidade. Essas dificuldades podem ser logo superadas com auxílio e ajustes ambientais, empoderando a mãe e a rede de apoio para ajudá-la sempre que necessário, seja mantendo o bebê alerta, facilitando a posição, ou observando a pega do bebê na mama. Algumas vezes, também é indicado o uso do bico de silicone, porém, é importante evitar essa ferramenta, principalmente sem acompanhamento de profissional especializado para que faça a retirada o quanto antes; pois estudos científicos evidenciam que o seu uso leva a redução na taxa de aleitamento materno exclusivo e um desmame precoce.
Além de todos esses benefícios citados para o bebê, há também os benefícios para as mães, e existe todo o contexto de vinculação, aconchego, carinho, troca de olhares, cumplicidade, que é essencial para a mãe e o bebê neste período de intensa adaptação, e que nutre essa díade também emocionalmente. Portanto, se você é mãe ou rede de apoio, caso tenha alguma dúvida, não demore a chamar ajuda especializada, seja dos profissionais de saúde, do banco de leite, ou consultores em amamentação. Essas dificuldades podem ser rapidamente contornadas, e a amamentação se estabelecer de forma adequada. E para os profissionais de saúde, precisamos sempre ter paciência, escutar, aconselhar e estudar sobre a amamentação, para que possamos estimular, cada dia mais, essa vinculação e alimentação tão primordial.
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Agradecemos aos pais Lylia e Eder por cederem as fotos de Enzo para ilustrar nosso texto. Ele é irmão gêmeo da Tainá, que infelizmente não sobreviveu devido à prematuridade e hoje mora com Deus. Enzo nasceu de 23 semanas e 5 dias, pesando 630 gramas, dia 08/04/16. Agora está com 7 meses de idade cronológica e 3 meses de idade corrigida.
Texto de Caroline Burgos