Através da pele podemos experienciar sensações de prazer e dor. Muito se fala atualmente sobre os benefícios do nascimento humanizado e respeitoso para o desenvolvimento físico e emocional do bebê, as práticas estão mudando, com intuito de evitar intervenções invasivas que gerem desconforto e stress para a vida que acaba de nascer.
É preciso levar em consideração a sensibilidade cutânea desse bebê e pensar em métodos não farmacológicos de alívio da dor, quando faz-se necessário algum procedimento mais invasivo, como é o caso da vacina. Você, mãe, que já vivenciou esse momento diversas vezes, já recebeu alguma orientação dos profissionais de saúde para amenizar a dor do seu filho? Você sabia que isso é possível?
Infelizmente, mesmo os profissionais que trabalham exclusivamente com a infância, desconhecem esta informação, mas há estudos que comprovam o que vamos contar aqui. Antes é preciso entender a função psicológica da pele! Dolnad Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês que desenvolveu o conceito de holding físico e emocional; para ele, a mãe (o pai também, ou qualquer cuidador!) deve fornecer um suporte adequado para que o bebê possa se desenvolver de forma satisfatória. O holding tem as seguintes funções: proteger contra agressões fisiológicas; considerar a sensibilidade epidérmica e a rotina de cuidados durante todo o dia. O vínculo construído através do holding permitirá o desenvolvimento emocional saudável deste bebê.
Mas não é apenas os pais que precisam entender e oferecer o holding para os bebês, profissionais que irão pesar, dar banho, examinar ou fazer qualquer outro procedimento invasivo no bebê, também devem praticá-lo, assim o bebê será protegido da sensação de queda e insegurança, diferente do período uterino que ele tinha o útero como barreiras que o envolviam e lhe davam segurança. Para Winnicott, a sensação de queda momentânea pode reverberar para sempre na vida de uma pessoa.
A forma de manusear um bebê deve ser cuidadosa e considerar os sinais de desconforto dele. No caso de procedimentos invasivos, como a vacina, podemos pensar em alternativas para suavizar o desconforto gerado. A pele tem uma função chamada barreira da permeabilidade cutânea, responsável por regular a passagem de água, e num estudo da revista Archives of Dermatology verificou-se que a recuperação desta função era mais rápida em períodos de menor tensão emocional, sendo que o maior prejuízo foi apresentado por indivíduos que se reconheceram com maior stress psicológico, constatando assim, como o stress pode gerar distúrbios na função epidérmica, como a dermatite atópica, tão comum hoje em dia nas crianças.
É através do corpo que os bebês irão conhecer o mundo, a pele é seu primeiro meio de contato, nosso envoltório corporal. Então, logo ao nascer ele experimenta a passagem pelo canal vaginal; o contato pele a pele com seus pais, a amamentação e o toque através dos cuidados e intervenções. Estudos mostram que a pele tem a mesma origem embrionária do sistema nervoso, o que justificaria a manifestação de conflitos internos através da pele. Então, como podemos amenizar as intervenções invasivas no bebê, para que estas não gerem feridas psíquicas?
Os profissionais de saúde investigam muitas formas não farmacológicas de alívio da dor, numa tentativa de amenizar a intensidade e duração desta. Hospitais usam de forma rotineira a glicose e sacarose, mas há estudos que digam que estas alternativas causam problemas neurológicos no bebê. Portanto, o contato pele a pele e a amamentação seriam alternativas mais naturais e eficazes.
Dicas para profissionais que trabalham com recém-nascidos (RN) em UTI Neonatal:
*Reduzir o número de interrupções do sono do RN;
*Eliminar procedimentos desnecessários;
*Evitar repetir procedimentos após tentativas sem sucesso;
*Usar a sucção não nutritiva com dedo enluvado (diminui a hiperatividade, modula o desconforto, aumenta a oxigenação, melhora funções respiratórias e gastrointestinais, diminui frequência cardíaca e gasto energético).
Já as mães, têm uma forma de alívio da dor bem eficaz: a amamentação, através dela a mãe está fornecendo alívio através da sucção, do contato pele a pele e leite materno. Um estudo realizado no Brasil (LEITE, Adriana Moraes. Efeitos da amamentação no alívio da dor em recém-nascidos a termo durante a coleta do teste do pezinho. 2005. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005) comparou bebês que foram submetidos a exames de sangue para teste do pezinho sendo amamentados e sendo apenas carregados pelas mães e, verificou-se, que os bebês amamentados tiveram menor reação de dor. Nesse estudo os bebês iniciaram a mamada 5 minutos antes do procedimento e permaneceram mamando durante e 5 minutos após o termino do procedimento.
Então, vamos investir mais em alternativas que previnam a dor ou reduzam os sinais fisiológicos e comportamentais de dor nos bebês, lembrando que essas estratégias devem ser iniciadas antes dos procedimentos, e mantidas durante e após o término do procedimento.
As mães que não amamentam também podem usar essas estratégias:
*contato pele a pele;
*sucção não nutritiva com seu próprio dedo (devidamente higienizado);
*contenção gentil dos membros junto ao tronco, seja através da sustentação apenas com as mãos do adulto, ou uso de ninhos, casulos, slings e mantas.
Todas as estratégias visam prevenir ou diminuir a dor, constatada através da diminuição do choro do bebê, estabilização do ciclo sono-vigília, menor alteração da frequência cardíaca, aumento na oxigenação etc. Observe o seu bebê e conheça as estratégias que melhor se adequam para vocês!
Tarsila Leão
tarsila@amama.com.br