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Foto do escritorTarsila Leão

A Dor nos Bebês: como manejar?


Através da pele podemos experienciar sensações de prazer e dor. Muito se fala atualmente sobre os benefícios do nascimento humanizado e respeitoso para o desenvolvimento físico e emocional do bebê, as práticas estão mudando, com intuito de evitar intervenções invasivas que gerem desconforto e stress para a vida que acaba de nascer.

É preciso levar em consideração a sensibilidade cutânea desse bebê e pensar em métodos não farmacológicos de alívio da dor, quando faz-se necessário algum procedimento mais invasivo, como é o caso da vacina. Você, mãe, que já vivenciou esse momento diversas vezes, já recebeu alguma orientação dos profissionais de saúde para amenizar a dor do seu filho? Você sabia que isso é possível?

Infelizmente, mesmo os profissionais que trabalham exclusivamente com a infância, desconhecem esta informação, mas há estudos que comprovam o que vamos contar aqui. Antes é preciso entender a função psicológica da pele! Dolnad Winnicott foi um pediatra e psicanalista inglês que desenvolveu o conceito de holding físico e emocional; para ele, a mãe (o pai também, ou qualquer cuidador!) deve fornecer um suporte adequado para que o bebê possa se desenvolver de forma satisfatória. O holding tem as seguintes funções: proteger contra agressões fisiológicas; considerar a sensibilidade epidérmica e a rotina de cuidados durante todo o dia. O vínculo construído através do holding permitirá o desenvolvimento emocional saudável deste bebê.

Mas não é apenas os pais que precisam entender e oferecer o holding para os bebês, profissionais que irão pesar, dar banho, examinar ou fazer qualquer outro procedimento invasivo no bebê, também devem praticá-lo, assim o bebê será protegido da sensação de queda e insegurança, diferente do período uterino que ele tinha o útero como barreiras que o envolviam e lhe davam segurança. Para Winnicott, a sensação de queda momentânea pode reverberar para sempre na vida de uma pessoa.

A forma de manusear um bebê deve ser cuidadosa e considerar os sinais de desconforto dele. No caso de procedimentos invasivos, como a vacina, podemos pensar em alternativas para suavizar o desconforto gerado. A pele tem uma função chamada barreira da permeabilidade cutânea, responsável por regular a passagem de água, e num estudo da revista Archives of Dermatology verificou-se que a recuperação desta função era mais rápida em períodos de menor tensão emocional, sendo que o maior prejuízo foi apresentado por indivíduos que se reconheceram com maior stress psicológico, constatando assim, como o stress pode gerar distúrbios na função epidérmica, como a dermatite atópica, tão comum hoje em dia nas crianças.

É através do corpo que os bebês irão conhecer o mundo, a pele é seu primeiro meio de contato, nosso envoltório corporal. Então, logo ao nascer ele experimenta a passagem pelo canal vaginal; o contato pele a pele com seus pais, a amamentação e o toque através dos cuidados e intervenções. Estudos mostram que a pele tem a mesma origem embrionária do sistema nervoso, o que justificaria a manifestação de conflitos internos através da pele. Então, como podemos amenizar as intervenções invasivas no bebê, para que estas não gerem feridas psíquicas?

Conversar e mostrar como será o procedimento também pode ser uma forma de acalmar e diminuir a ansiedade da criança

Os profissionais de saúde investigam muitas formas não farmacológicas de alívio da dor, numa tentativa de amenizar a intensidade e duração desta. Hospitais usam de forma rotineira a glicose e sacarose, mas há estudos que digam que estas alternativas causam problemas neurológicos no bebê. Portanto, o contato pele a pele e a amamentação seriam alternativas mais naturais e eficazes.

Dicas para profissionais que trabalham com recém-nascidos (RN) em UTI Neonatal:

*Reduzir o número de interrupções do sono do RN;

*Eliminar procedimentos desnecessários;

*Evitar repetir procedimentos após tentativas sem sucesso;

*Usar a sucção não nutritiva com dedo enluvado (diminui a hiperatividade, modula o desconforto, aumenta a oxigenação, melhora funções respiratórias e gastrointestinais, diminui frequência cardíaca e gasto energético).

Já as mães, têm uma forma de alívio da dor bem eficaz: a amamentação, através dela a mãe está fornecendo alívio através da sucção, do contato pele a pele e leite materno. Um estudo realizado no Brasil (LEITE, Adriana Moraes. Efeitos da amamentação no alívio da dor em recém-nascidos a termo durante a coleta do teste do pezinho. 2005. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005) comparou bebês que foram submetidos a exames de sangue para teste do pezinho sendo amamentados e sendo apenas carregados pelas mães e, verificou-se, que os bebês amamentados tiveram menor reação de dor. Nesse estudo os bebês iniciaram a mamada 5 minutos antes do procedimento e permaneceram mamando durante e 5 minutos após o termino do procedimento.

É importante que os profissionais se apresentem e conversem com a mãe e o bebê

Espere pelo menos 5 minutos após o início da mamada para iniciar o procedimento

Os pais podem fazer o holding para mãe e bebê

Então, vamos investir mais em alternativas que previnam a dor ou reduzam os sinais fisiológicos e comportamentais de dor nos bebês, lembrando que essas estratégias devem ser iniciadas antes dos procedimentos, e mantidas durante e após o término do procedimento.

As mães que não amamentam também podem usar essas estratégias:

*contato pele a pele;

*sucção não nutritiva com seu próprio dedo (devidamente higienizado);

*contenção gentil dos membros junto ao tronco, seja através da sustentação apenas com as mãos do adulto, ou uso de ninhos, casulos, slings e mantas.

Todas as estratégias visam prevenir ou diminuir a dor, constatada através da diminuição do choro do bebê, estabilização do ciclo sono-vigília, menor alteração da frequência cardíaca, aumento na oxigenação etc. Observe o seu bebê e conheça as estratégias que melhor se adequam para vocês!


Tarsila Leão

tarsila@amama.com.br


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