Há alguns meses eu li um texto de uma consultora de amamentação espanhola que me fez refletir sobre muitas questões, coloquei na gaveta com o seguinte pensamento “assim que tiver tempo, também vou escrever sobre a minha primeira vez”. Foi então que Pietra viu a foto que ilustrava o texto e perguntou se era ela, senti que estava na hora de escrever...
Faço parte de uma família que amamentar é algo muito natural; são mulheres que amamentaram crianças maiores (até 6 anos); amamentaram durante a gestação; amamentaram dois filhos de idades distintas (amamentação em tandem); amamentaram sobrinhos (amamentação cruzada – não recomendada atualmente pelo risco de transmissão de doenças); amamentaram bebês de outras mães na maternidade (isso já foi uma prática em nosso país)... Daí eu me questionei “como algo tão natural foi ganhando outro tom?”
Isso mesmo, quem me conhece pensa que sempre fui defensora da amamentação, mas nem sempre! Na faculdade de psicologia aprendi alguns mitos como verdades: “amamentação deixa a criança insegura, causa dependência emocional, depois dos seis meses não tem mais valor nutricional...”, infelizmente, as informações eram defasadas e não tive olhar crítico nesta época.
Quando criança, não recordo muito de ter brincado de dar mamadeira para meus bonecos bebês, brincávamos mais de fazer comidinhas com folhas. Acredito que isso, e tudo que vivenciei, foi mais forte. Quando comecei a trabalhar em UTI Neonatal e maternidade, tive grandes mestres que trabalhavam o aleitamento materno com muito amor e respeito. Fui então resgatando a verdade que sempre soube!
Daí o texto que estava engavetado me fez recordar um momento de infância. Certo dia soube que tinha uma nova prima, uma linda bebezinha que foi deixada na porta de minha tia, eu tinha cerca de 10 anos e lembro que fomos levá-la para uma amiga de minha tia amamentá-la. Achei um gesto tão lindo, que me tocou a alma.
Um ano antes de minha filha nascer, uma das minhas irmãs teve bebê, ela tinha passado
por uma mamoplastia redutora há alguns anos e teve algumas dificuldades para amamentar, mas foi persistente, se informou e conseguiu amamentar sua filha de forma exclusiva até seis meses e continuou por quase dois anos. Também tive uma prima que amamentou sua primeira filha por mais de três anos e sofreu algumas críticas feitas por mim (eu ainda estava com aquelas influências da faculdade), ainda bem que ela não me deu ouvidos! Hoje ela tem um filho de 4 anos e amamentamos juntas!
Todos esses exemplos me influenciaram, me inspiraram a ser o que sou hoje. Nunca imaginei doar leite com minhas mamas tão pequenas, cheguei até a duvidar se teria suficiente para minha filha, mas fiz doação durante meses e até recebi homenagem do Banco de Leite Humano. Também nunca imaginei amamentar uma criança de 4 anos e viver um desmame quase espontâneo, mas a experiência está sendo enriquecedora!
Então eu vejo como as influências na infância são importantes e me questiono se as crianças que só brincam de dar mamadeira e chupeta, sem quase nunca verem uma mulher amamentar um bebê ou até uma criança maior, irão achar que a amamentação é algo mesmo natural. Na escola de minha filha a amamentação é bem incentivada, até abriram as portas para realizarmos a Roda de Conversa Amamentar. Quando estou lá e Pietra pede para mamar, busco os olhares das crianças que nos observam e as deixo se aproximarem e questionar “Tarsila, Pi está mamando?” “Sai leite do seu peito?” “Qual a cor do seu leite?” “Posso ver o leite saindo?” “Pi, deixa eu ver se tem leite na sua boca” ”Tarsila, acho que Pi quer mamar”. Lá na escola, mesmo as crianças que não foram amamentadas, brincam de dar de mamar, porque viram que eu e outras mães amamentamos com bastante naturalidade os nossos filhos, e espero com isso fazer diferença no aprendizado dessas crianças, meninas e meninos, por uma nova cultura a favor da amamentação.
E você, qual foi a primeira vez que a amamentação lhe despertou admiração?
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