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Foto do escritorTarsila Leão

O contato pele a pele e a exterogestação


Ao longo das últimas três semanas, estamos falando aqui no blog, sobre a importância do contato pele a pele sob o ponto de vista de diferentes áreas de atuação. A ideia é mostrar como algo tão simples e genuíno pode te auxiliar em sua maternagem.

Hoje falaremos do conceito de exterogestação, já ouviu falar? Apesar do nome complicado, a ideia é simples. Diferente dos demais mamíferos, o bebê humano tem um cérebro muito complexo e que necessita de refinamento de suas funções ao longo de seu desenvolvimento. Por isso, acredita-se que o corpo “expulsa” (parto) o bebê humano antes do tempo, pois se esperasse todo este refinamento e amadurecimento do cérebro, a cabeça do bebê seria muito maior e não seria possível sair pelo canal do parto. Desta forma, o bebê precisa de no mínimo mais três meses de “gestação” para se adaptar à vida fora do útero. E são estes três primeiros meses que denominamos de exterogestação, embora existam teorias que dizem que este tempo é de, pelo menos, nove meses.

A partir do momento que entendemos que este bebê, recém-saído do útero de sua mãe, ainda não está totalmente formado, que suas conexões e sinapses estão em desenvolvimento e amadurecimento, e que ele depende exclusivamente de sua mãe; é muito mais fácil passar por aqueles primeiros meses que costumam ser de aflição das mães com tantas adaptações que precisam ocorrer.

Mas você deve estar se perguntando: como então tratar este bebê que ainda deveria estar no útero? O primeiro passo você já tomou, está lendo este texto. O segundo passo é entender em que condições este bebê vivia dentro do útero:

  • Ambiente - aquoso, quentinho, apertado e movimentado.

  • Sons - um constante “shhhhhh”, mais alto que o volume de um secador; de fundo o som da voz da mãe e de quem está conversando com ela; além de sons internos e viscerais da mãe, como a digestão sendo realizada, os batimentos cardíacos, a circulação sanguínea.

  • Atividades do feto - dorme, acorda, chupa o dedo, reage a estímulos externos, tem movimentos respiratórios, soluça, boceja, sorri, se movimenta.

Diante destas informações, temos condições de seguir para o terceiro passo, que é a reprodução de condições deste ambiente intrauterino aqui do lado de fora. E uma das formas mais eficazes é justamente o tema da nossa série de textos: o contato pele a pele. Vimos no texto anterior (clique aqui para ler), que o contato pele a pele, desde o nascimento, contribui para o início e manutenção da amamentação; mas, além disso, o toque da mãe em seu filho é extremamente importante para o desenvolvimento psicoemocional e intelectual das crianças. Estudos internacionais também comprovam que este contato faz com que os bebês regulem melhor sua temperatura e batimentos cardíacos; além de serem bebês menos estressados. Por isso, sugerimos que as mães tenham sempre seus filhos por perto; que não neguem o colo por medo da criança ficar “mal acostumada”; que amamentem não só para suprir as necessidades fisiológicas do bebê, mas também para fornecer carinho, aconchego e segurança. Se você entende que isso é uma fase de desenvolvimento, certamente entenderá que suprir essas necessidades dos bebês não irá interferir na personalidade ou educação de seu filho. Formas eficazes de promover este contato pele a pele: usar o sling, de forma que as peles permaneçam em contato; fazer massagens em seu bebê, como a shantala, que é extremamente indicada para promover o vínculo mãe-bebê, além de ajudar nas cólicas e circulação do bebê.

Outras formas de reproduzir o ambiente intrauterino aqui do lado de fora:

  • Amamentação em livre demanda, já que no útero o bebê recebia os nutrientes via cordão umbilical e não tinha horários pré-estabelecidos para isso.

  • Reprodução de barulhos semelhantes aos escutados no ambiente intrauterino: o famoso white noise (também conhecido por ruído branco ou o “shhhhhhh”); além disso, você, mãe, tem um recurso poderosíssimo para acalmar o seu bebê, aquele som que ele escutou 24h por dia, a sua voz. Converse e cante para seu filho, isso pode te salvar em alguns momentos de desespero.

  • Movimento: você já parou para imaginar o quanto seu filho balançou dentro de você? O movimento é algo muito importante para reproduzir este ambiente intrauterino, mas, atenção, balançar é diferente de sacudir. Aqui o sling também entra como grande aliado, no próximo texto da série contato pele a pele, falaremos melhor sobre ele.

  • Reproduzir a contenção do útero: o bebê ficou nove meses apertadinho e quando sai para esse mundão, se sente perdido todo ereto, com os braços e pernas esticados. Então, a técnica milenar de embrulhar o bebê no charutinho é bem benéfica. A medida que ele cresce e não aceita mais ser embrulhado no charutinho, pode se fazer uma contenção em forma de U, no local que o bebê dorme, de forma que ele sempre se sinta tocado quando se movimenta no sono.

Para finalizar peço que reflitam sobre a importância de atender as necessidades físicas e emocionais do bebê, deixando de lado conceitos populares equivocados, tais como: bebê que fica no colo fica mal acostumado e está de manha; criança que pede o peito quando acabou de mamar, está “chupeitando”; criança que mama de noite ficará mal educada; criança que dorme na cama dos pais não será um adulto independente... Entendam que ser humano algum se transformará em um delinquente por ter sido amado por seus pais e terem suas necessidades atendidas. Nós aprendemos a amar sendo amados, e isso ficará para sempre registrado nas memórias afetivas de seu filho.

Até o próximo texto!

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