Assim que nasce, o bebê tem que passar por inúmeras adaptações para sobreviver fora do útero materno. As funções vitais do organismo são avaliadas no primeiro minuto de vida, e o bebê precisa tornar-se capaz de respirar normalmente, pois útero é um ambiente de baixa oxigenação – passar pelo canal de parto pode ajudá-lo a expelir o líquido e encher os pulmões de ar. Após o corte do cordão umbilical o sistema digestivo se dilata e a pressão arterial aumenta; a circulação sanguínea se torna eficaz para levar sangue oxigenado a todos os órgãos e a coloração da pele vai mudando e perdendo o tom arroxeado; o coração modifica seu bombeamento e fecha um canal existente durante a gestação. A temperatura corporal também precisa se ajustar – o mundo exterior é mais frio que o útero – e será nesse primeiro contato pele a pele com a mãe que o organismo do bebê poderá se estabilizar da melhor forma. Nesta primeira hora, a frequência dos batimentos cardíacos vai reduzindo e se normalizando.
Diante da necessidade de tantos ajustes: novos cheiros, ruídos, temperatura, nova forma de respirar, se alimentar e proteger; precisamos fornecer ao recém-nascido uma transição humanizada. Para isso é preconizado e recomendado pelo Ministério da Saúde o contato pele a pele imediatamente após o nascimento, desde que o bebê tenha nascido sem nenhuma intercorrência que impeça esse primeiro contato. Este contato, como o próprio nome diz, deve ser diretamente na pele da mãe, sobre o tórax ou abdome desta, sendo, o bebê coberto com cobertor seco e aquecido e sem tecidos entre eles. A temperatura do ambiente deve ser controlada, para que não haja choque térmico.
Para estimular o contato pele a pele e a humanização no parto e após o nascimento a manipulação deve ser minimizada, os procedimentos invasivos evitados, e avaliação de peso e medidas realizada em momento oportuno. O objetivo da equipe de assistência ao parto deve ser manter o bebê o máximo de tempo com a mãe, sem separações desnecessárias.
Em alguns casos, o contato pele a pele não pode ser promovido imediatamente após o parto, devido a complicações ou intercorrências com a mãe ou bebê. Nestes casos, o contato deve ser estimulado imediatamente após a estabilização, para que a dupla possa desfrutar dos benefícios.
Os resultados alcançados com o contato pele a pele são:
- Para o bebê:
Melhor controle térmico;
Estabilização dos batimentos cardíacos e respiração;
Redução do stress, do choro, do gasto metabólico e da dor;
Facilitação da adaptação metabólica e estabilização da glicose sérica;
Colonização intestinal do bebê com a flora cutânea materna.
- Para a mãe:
Redução da ansiedade e expectativa, pois não são afastadas dos bebês;
Sensação de realização.
- Para a díade mãe-bebê:
Diminuição do tempo de separação;
Facilitação da vinculação afetiva;
Aumento das taxas de aleitamento materno, incluindo aleitamento materno exclusivo e prolongado.
Diante de tantos benefícios, é essencial que a família esteja informada e empoderada, e solicite que o bebê esteja em contato pele a pele com a mãe desde o nascimento. Quanto às equipes de saúde e assistência ao parto, devem estar atualizadas e em conformidade com esta prática, respeitando o tempo da díade, pois ela é importantíssima na primeira hora de vida do recém-nascido. É papel da mãe, pai, família, rede de apoio, profissionais de assistência ao parto cobrar este direito das equipes médicas e demais equipes de saúde. Fica aqui o meu convite: vamos cobrar este direito? Vamos praticar o contato pele a pele?